quinta-feira, 12 de março de 2009

Vida – Ascensão e Queda de uma Existência - Reflexão

Desculpem que vos diga mas não conheço coisa mais estúpida que a Vida. Mais estúpida e mais triste! Isto é um sofrimento pegado. Guerras, fome e doenças. Sentimos mais dor que prazer. Choramos mais do que rimos. Sofremos mais do que gozamos. A vida é injusta, e se não existe mais nada para além disto que raio é que andamos aqui a fazer? Nasces, vives e morres. Pronto. Aliás, quando nasces começa a contagem decrescente para a tua morte. Ainda não percebi, é porque é que fazemos uma festa no dia do nosso aniversário, se estamos a andar para trás, a ficar mais velhos, mais perto do fim! Há quem diga que nós voltamos, e que já cá estivemos numa outra vida ou existência. Isto explicaria os “Déjà vu”, aliás explicaria quase tudo.
Mas não, não acredito que esta minha vida seja a continuação de uma outra, ou a preparação para uma próxima. Senão vejamos, de que me adianta já ter vivido antes se não tirei daí nenhum ensinamento ou proveito, se não me lembro de rigorosamente nada do que supostamente já vivi?! Se já cá estive, para todos os efeitos, foi como se nunca tivesse estado!
Enfim, dizia eu que isto é um sofrimento pegado. Quando nasces começas logo por levar porrada d’um gajo que não conheces de lado nenhum e a quem chamam médico! Isto para já não falar da dor que sentes quando o primeiro sopro de ar te entra nos pulmões. Ou da dor que sentes quando cortam um pedaço de ti que te amarrava umbilicalmente à tua mãe, assim mesmo, sem anestesia! Em bebé sofres com as dores de barriga, com as dores de dentes, com o cu assado pelas fraldas. Depois deixam-te no infantário e pela primeira vez na vida sentes a dor do abandono. A seguir vem a escola primária, e aí o abandono é diferente, dura mais tempo e os outros putos são muito mais chatos e agressivos. E por falar em abandono, já viram quanto dói perder o pai ou a mãe? Ou pior ainda, perder um filho!? Perdermos, ao fim de "xis" tempo, a nossa companheira de toda uma vida? Vem a adolescência e os primeiros amores não correspondidos. A descoberta da sexualidade. As dores de corno quando as miúdas que queremos para nós escolhem sempre os outros! Tens quinze anos e não os gozas, porque não sabes a saudade que vais sentir aos quarenta! E como a saudade dói!
Agora que já tens dezoito tens que começar a pensar em fazer-te à vida, sem a protecção dos papás. Vem a tropa, o liceu que nunca mais acaba, o futebol que não deu em nada – craque era o cabrão do vizinho – e continuas a gostar daquela gaja que nem sabe que tu existes. Aquela que namora com aquele atrasado mental que tem músculos no lugar do cérebro.
Agora que já tens idade para ter juízo, és casado e pai de filhos, tens a vida organizada, vês a Vida passar para não passares pela Vida envolvendo outras vidas. Agora que és velho, se tiveste a sorte ou o azar de lá chegar, e estás quase a morrer, pensas na vida, em tudo o que passaste. “Não me arrependo de nada do que fiz, mas arrependo-me de quase tudo… que não fiz!” É a frase preferida dos frustrados… Pensas em todos aqueles que amaste e já cá não estão, pensas como podias ter sido tão mais feliz se fosses por outro caminho. Valeu a pena? Será que valeu a pena? Pergunta a Deus, se é que Ele existe! Vai. Vai, mas se voltares vive a próxima vida sem medo de ti próprio. Vive sem amar, senão vais continuar a sofrer. Mas se amares, então ama com toda a tua força, porque sofrer por sofrer ao menos que valha a pena. Morre em paz. Até à próxima existência. A malta vê-se por aí!

José Manuel Sarmento - Setembro 2003

2 comentários:

  1. Há momentos assim…
    Existe toda a lógica na sua reflexão.
    Existem vários (muitos) momentos na nossa vida que nos obriga a ser negativistas.
    Quando se refere à “Guerra, Fome e Doenças”, julgo ser os mais causadores de atrocidades para com o ser humano.
    Há dias que por mais que pense, não consigo compreender o ser humano.
    É revoltante assistir às inúmeras situações que acontecem a toda a hora no mundo e que não são encontradas explicações, ou não existe interesses em explicá-las.
    Espero sinceramente que exista a “Lei do Retorno” e que essas pessoas, que agora usam do poder e da prepotência, etc., contra os mais fracos, venham a sentir na pele a impotência que fazem sentir a quem deles precisa e a quem eles batem com a porta.
    Mas a vida também tem coisas positivas a que temos de nos agarrar com unhas e dentes para minimizar as frustrações.
    Aqui anexo uma reflexão da Madre Teresa de Calcutá, que resume bem o que é a vida.
    Os meus parabéns pelo blog. Muito interessante!
    Um abraço.
    António M. N. Ferreira
    "A vida é uma oportunidade, aproveite-a...
    A vida é beleza, admire-a...
    A vida é felicidade, deguste-a...
    A vida é um sonho, torne-o realidade...
    A vida é um desafio, enfrente-o...
    A vida é um dever, cumpra-o...
    A vida é um jogo, jogue-o...
    A vida é preciosa, cuide dela...
    A vida é uma riqueza, conserve-a...
    A vida é amor, goze-o...
    A vida é um mistério, descubra-o...
    A vida é promessa, cumpra-a...
    A vida é tristeza, supere-a...
    A vida é um hino, cante-o...
    A vida é uma luta, aceite-a...
    A vida é aventura, arrisque-a...
    A vida é alegria, mereça-a...
    A vida é vida, defenda-a..."

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  2. "A vida é f***** e depois morre-se"!!!
    Embora não seja meu hábito usar palavrões,não vejo frase mais acertada para descrevê-la...
    Aliás a 1ª vez que a li, algures, bateu cá dentro de tão acertada que a achei.
    Não sei se voltamos, não sei se já por cá teremos andado antes,mas acho que não a aproveitamos o suficiente!
    Preocupamo-nos tanto com coisas tão simples que não temos tempo para dar valor ao que de bom nos acontece...
    Eu arrependo-me de muita coisa que fiz.
    E de muita coisa que deixei por fazer.
    De muita coisa que vivi.
    E de muita coisa que deixei de viver.
    Mas de ter amado, nunca!
    Mesmo que não tenha tido retorno, valeu a pena...
    E de sonhar também não!
    Como dizia o poeta "o sonho comanda a vida" e enquanto por cá andamos... sonhemos!
    Depois... morre-se!
    Mas até lá, vamos tendo o gosto de ler e comentar textos como este.
    Parabéns amigo!
    Bj

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