quinta-feira, 12 de março de 2009

Eu – ou a desinspiração total

O

Hoje é um daqueles dias de merda em que a inspiração não vem. Está de folga. Farto-me de pensar, de olhar para o céu, de coçar a cabeça, e… nada! Nem um poema, nem uma quadra, um texto ou uma pequena história, nem uma anedota ou adivinha, nada! Que grande porra! Passo horas a olhar para o teclado do computador, como um burro olha para um palácio! Bom, um palácio é muito mais bonito que este estúpido teclado… por outro lado eu também sou um bocadinho melhor que um asno. Acho eu! Se eu vivesse disto estava bem lixado, sim senhor, hoje não comia!
Ontem à noite estive a ver no canal 1 um programa com o Júlio Machado Vaz, gosto muito de o ouvir, o tipo fala de sexo como eu falo de futebol. Diz é menos asneiras que eu! Mas a que propósito é que vem esta merda?
Há-de sair, há-de sair, já dizia o Bocage. Manuel Maria Barbosa du Bocage. Este sim, não perdia tempo a pensar em frente ao teclado do computador. Por dois motivos. Primeiro porque no tempo dele não havia computadores; Segundo, porque o homem era um génio! Conhecem aquela anedota que se conta acerca do Bocage, quando ele estava em cima de uma árvore, a cagar cá para baixo, e acertou no boné de um polícia? O polícia perguntou-lhe, indignado, “Sabe o que é que você precisava agora?” responde o Bocage “Sei sim, Sr. guarda, de papel para limpar o cu!”
Pois é, eu é que ainda vou limpar o cu a esta merda que estou para aqui a escrever. Sim, porque não conheço ninguém com paciência suficiente para ler esta droga! E com isto tudo já consegui escrever a palavra “merda” três vezes, com esta quatro!Ninguém me telefona, ninguém me manda uma mensagem… estou mesmo na… opss, lá ia sair asneira outra vez, ainda vou ter que colocar um círculo vermelho no canto superior direito da folha. (É nesta altura que me lembro de lá colocar a “bolinha”, que é mesmo vermelha, acreditem!)
Agora já posso escrever asneiras.
Vi também, ontem, na TVI, uma peça teatral portuguesa interpretada por quatro actrizes muito jovens, quase adolescentes, e o palavreado era tal que nem eu próprio era capaz de escrever aquela merda (já cá faltava a merda!). A peça era constituída de vários “sketches” e num deles uma das miúdas telefonava a uma amiga e dizia-lhe “… vou p´rá cama com um gajo que conheci agora e quero que digas ao meu pai para ele se ir foder…” e a amiga repetia para as outras duas “… ela quer que o pai se vá foder…” Numa cena seguinte uma actriz faz dois papéis, num é uma santa e noutra é, segundo ela mesma diz “… uma puta, uma putona que só quer é foder com todos os gajos que encontrar…” O público ria e aplaudia! Não sou antiquado, mas admito que fiquei chocado com o que as “meninas” diziam. Numa outra cena uma das miúdas dizia que adorava “pau” dizia que os “paus” eram todos bons para comer o que estava por detrás deles é que não prestava! De certa forma tive pena de não apanhar aquilo de início, tive pena de não gravar, gostava de descobrir qual o objectivo de pôr quatro miúdas em palco (pareciam ter entre 17 e 20 anos) a dizer tanta obscenidade e tanta pornografia verbal, mas enfim!
E o tempo vai passando e eu não encontro assunto para escrever. Até amanhã!

José Manuel Sarmento – Outubro 2003

(2003-10-08)

Vida – Ascensão e Queda de uma Existência - Reflexão

Desculpem que vos diga mas não conheço coisa mais estúpida que a Vida. Mais estúpida e mais triste! Isto é um sofrimento pegado. Guerras, fome e doenças. Sentimos mais dor que prazer. Choramos mais do que rimos. Sofremos mais do que gozamos. A vida é injusta, e se não existe mais nada para além disto que raio é que andamos aqui a fazer? Nasces, vives e morres. Pronto. Aliás, quando nasces começa a contagem decrescente para a tua morte. Ainda não percebi, é porque é que fazemos uma festa no dia do nosso aniversário, se estamos a andar para trás, a ficar mais velhos, mais perto do fim! Há quem diga que nós voltamos, e que já cá estivemos numa outra vida ou existência. Isto explicaria os “Déjà vu”, aliás explicaria quase tudo.
Mas não, não acredito que esta minha vida seja a continuação de uma outra, ou a preparação para uma próxima. Senão vejamos, de que me adianta já ter vivido antes se não tirei daí nenhum ensinamento ou proveito, se não me lembro de rigorosamente nada do que supostamente já vivi?! Se já cá estive, para todos os efeitos, foi como se nunca tivesse estado!
Enfim, dizia eu que isto é um sofrimento pegado. Quando nasces começas logo por levar porrada d’um gajo que não conheces de lado nenhum e a quem chamam médico! Isto para já não falar da dor que sentes quando o primeiro sopro de ar te entra nos pulmões. Ou da dor que sentes quando cortam um pedaço de ti que te amarrava umbilicalmente à tua mãe, assim mesmo, sem anestesia! Em bebé sofres com as dores de barriga, com as dores de dentes, com o cu assado pelas fraldas. Depois deixam-te no infantário e pela primeira vez na vida sentes a dor do abandono. A seguir vem a escola primária, e aí o abandono é diferente, dura mais tempo e os outros putos são muito mais chatos e agressivos. E por falar em abandono, já viram quanto dói perder o pai ou a mãe? Ou pior ainda, perder um filho!? Perdermos, ao fim de "xis" tempo, a nossa companheira de toda uma vida? Vem a adolescência e os primeiros amores não correspondidos. A descoberta da sexualidade. As dores de corno quando as miúdas que queremos para nós escolhem sempre os outros! Tens quinze anos e não os gozas, porque não sabes a saudade que vais sentir aos quarenta! E como a saudade dói!
Agora que já tens dezoito tens que começar a pensar em fazer-te à vida, sem a protecção dos papás. Vem a tropa, o liceu que nunca mais acaba, o futebol que não deu em nada – craque era o cabrão do vizinho – e continuas a gostar daquela gaja que nem sabe que tu existes. Aquela que namora com aquele atrasado mental que tem músculos no lugar do cérebro.
Agora que já tens idade para ter juízo, és casado e pai de filhos, tens a vida organizada, vês a Vida passar para não passares pela Vida envolvendo outras vidas. Agora que és velho, se tiveste a sorte ou o azar de lá chegar, e estás quase a morrer, pensas na vida, em tudo o que passaste. “Não me arrependo de nada do que fiz, mas arrependo-me de quase tudo… que não fiz!” É a frase preferida dos frustrados… Pensas em todos aqueles que amaste e já cá não estão, pensas como podias ter sido tão mais feliz se fosses por outro caminho. Valeu a pena? Será que valeu a pena? Pergunta a Deus, se é que Ele existe! Vai. Vai, mas se voltares vive a próxima vida sem medo de ti próprio. Vive sem amar, senão vais continuar a sofrer. Mas se amares, então ama com toda a tua força, porque sofrer por sofrer ao menos que valha a pena. Morre em paz. Até à próxima existência. A malta vê-se por aí!

José Manuel Sarmento - Setembro 2003

A Casa

Porto, Dezembro de 1977

Não, meu Deus, não. Recomeçaram. São duas da manhã. Hoje não me deixam dormir. E o pior é que tenho medo. Um medo de morte. Olho por cima dos lençóis e vejo luz onde queria ver escuridão. Ouço-lhes as vozes, os talheres a bater nos pratos, aquela música séc. XVII. Isto é horrível, e a minha mãe, no quarto ao lado, que não acorda. Vou ter que lá ir. A curiosidade sobrepõe-se ao medo. Tenho que tentar ver. Tenho que Os ver. Levanto-me e vou, pé ante pé, até à porta da sala de jantar, o barulho aumenta, o medo e a curiosidade também. Não consigo perceber uma palavra do que dizem. A música toca alto, pelo barulho dá para perceber que uns estão a comer e outros a dançar. Encho-me de coragem e olho pela fechadura, não se vê nada… abro a porta!
A luz apaga-se e lá dentro não está viv'alma! Ficou um cheiro fortíssimo a velas! Está escuro. Estou aterrorizado. Não consigo voltar para trás. Não consigo virar as costas à sala e voltar para o meu quarto. Vou ter que ter coragem. Eles não me querem fazer mal. Se quisessem já o tinham feito, não fugiam, não desapareciam assim que eu chego. Vou entrar na sala e acender a luz. A mesma luz que ainda agora estava acesa!
Acendo a luz e não encontro o mínimo vestígio de ali ter estado alguém. No fundo era isto que eu esperava encontrar. Nada! Teria eu sonhado? Serei sonâmbulo? Mas então e o cheiro a velas? Não pode ser, não, não sonhei. Eles existem e estão aqui! Os fantasmas da minha casa estão aqui. Estão a ver-me e eu não os vejo. Não é justo. E quem serão e o que querem? Será que me lêem o pensamento? ´Tou bem lixado, sim senhor! Bem, vou apagar a luz, fechar a porta e vou para o quarto. Não é fácil mas vou ter que ter coragem! Do interruptor até à porta ainda são uns quatro metros. Quatro metros às escuras aqui dentro. Meu Deus ajuda-me!
Ok, apaguei a luz, agora corro até à porta e fecho-a. Pronto. Já está! Parece que está tudo bem. Deus queira que eles se tenham assustado tanto comigo, como eu com eles. Pode ser que não voltem tão cedo. Já há muito que não os ouvia. Cheguei a duvidar de mim mesmo, mas afinal existem. E eu fui lá, porra tive coragem, ia-me cagando todo, mas fui lá!
Vou-me deitar e tentar dormir. São quatro horas e recomeçou a Festa. Cabrões de merda! Eu vou-me passar, esta merda só em filmes, e daqueles que a minha mãe não me deixa ver! Outra vez a luz acesa, ainda há pouco a apaguei. As vozes, o barulho dos talheres e a música. A quem contar ninguém acredita! Podia tentar gravar as vozes, os barulhos e a música, mas o que é que isso ia provar? Eu conseguiria o mesmo registo gravando o som de um qualquer filme da série B!Tenho que voltar lá. Chamo a minha mãe ou não? Não, não chamo, vou lá sozinho. Amanhã vou contar isto ao Beto, ele acredita em mim! Deve ser o único, se bem que eu acho que a minha mãe também sabe “disto” mas não me quer assustar e por isso nunca me disse nada. Amanhã vou confrontá-la com esta cena.
Lá vou eu, todo cagadinho, pé ante pé ao encontro do desconhecido. Acreditem que é arrepiante, e tendo em consideração que só tenho quinze anos… que se lixe, vou voltar lá!
(…)
E voltei… vezes sem conta! E senti sempre o mesmo, e cheirei sempre o mesmo… nunca vi nada! Era assim na minha velha casa da Foz – que saudades! – Eles estavam lá… eles ficaram lá.
Não consigo explicar melhor do que isto, mas que nesta vida existem muitas coisas que não conseguimos explicar, existem!

José Manuel Sarmento - Dezembro 2004

Eu estive lá!

(Att: Artigo muito extenso, se não gosta de ler, passe à frente)
Dia 4 de Agosto. Cheguei a Lisboa por volta das 10:30. Estava cansado. Contente e triste ao mesmo tempo. Contente porque estava ali, defronte do novo “Estádio José Alvalade”, e triste porque já só havia bilhetes para sócios. E só dos mais caros, era o que vinha escrito nos jornais e era o que diziam na televisão. Ainda assim estava uma fila considerável rumo à única bilheteira aberta. É só para sócios, pensei, e segui em direcção à Loja Verde. Lá, comprei um cachecol “Stromp” e uns chinelos para o Pedro. “Deixa lá, filho, vemos o jogo na televisão”. À saída da Loja Verde, por curiosidade, perguntei a um segurança se ainda havia bilhetes para “não sócios”. Respondeu-me que sim. Perguntei-lhe se eram os de 120€. Disse-me que não, inclusivamente havia ainda de 60€ e 80€. Renasceu a esperança. Vou para a fila (que estava maior agora…), que se lixe. São agora 11h20. “Manela vai levantar 160€ ao multibanco, se fazes favor, até 80€ ainda compro bilhetes, a 120€ não posso. “Filho não alimentes esperanças, quase de certeza que quando o pai chegar à bilheteira já só há bilhetes dos mais caros, e eu não posso dar 120 €uros por cada bilhete”, disse-lhe eu. “Eu sei pai”, respondeu-me com voz triste. Enquanto eles foram levantar dinheiro fiquei na fila a “apalpar o pulso” àquela gente. Uns dizem que há bilhetes, outros dizem que não há. Um homenzinho vende garrafas de água, das pequeninas, a 1€ cada. Se eu fizesse o mesmo quando chegasse à bilheteira já podia dar 240€ por dois bilhetes… porra é muito dinheiro! 80€ x 2 também é, mas… afinal de contas não é um jogo qualquer. É histórico, é a inauguração do novo estádio do Sporting! Contra o Manchester United! Daqui a cinquenta anos ainda a malta vai estar a falar deste jogo. Era um sonho conseguir fazer parte desse momento. Poder dizer “Eu estive lá!”.
Começa a sair o primeiro grupo de pessoas que foram comprar bilhetes, desde que eu estou aqui, passa um por mim e vai a falar ao telemóvel. Nem de propósito, parou a cinco metros de mim, está a dizer que… “já não há bilhetes. Lotação esgotada. Já só há para sócios e dos mais caros…” merda, penso eu, morreu o sonho. Quando a Manela e o Pedro chegarem, vamos p’ró hotel. Eu e dois senhores que estavam à minha frente ia-mos sair da fila quando um deles disse “eu vou lá acima confirmar, guardem-me aqui o lugar…” dois minutos depois regressou com a notícia “o gajo que estava ao telefone é passado dos cornos, o segurança diz que ainda há bilhetes de 60€, 80€ e 120€!”. Nós aqui na fila passamos do sonho à desilusão em poucos segundos. Tenho fome, sede e ‘tou cansado. A malta diz que só daqui a duas ou três horas é que chegamos à bilheteira. Quero ver ao fim deste sacrifício todo, chegar lá e já não haver, entradas para não sócios, a 80€! A Manela e o Pedrocas estão de volta. Já tenho dinheiro para dois bilhetes até 80€. Volto a dizer ao meu filho que não conte muito com o “ovo no cú da galinha” não vão as contas sair furadas. O rapaz diz que compreende e a Manela decide que vão à procura do hotel Roma enquanto eu fico ali a tentar a minha sorte.
É meio-dia. A fila parece que não anda. Lá em cima da escadaria aparece uma figura estranha, meio homem meio mostrengo. É uma espécie de “bola 7”, o famoso “torcedor” brasileiro do futebol de praia. O tipo é enorme e disforme, é grande e gordíssimo! Não fala, solta enormes urros. É uma espécie de meio gorila, meio homem! Está também a vender garrafas de água a 1€ cada… é ajudante do “chico esperto”. Entretanto correm as mais variadas notícias sobre os ingressos para a noite mágica. Uns dizem que há, outros falam em lotação esgotada. O meu ”vizinho” da frente está comigo na luta, diz que só compra bilhete se tiverem de 60 ou 80 euros. De 60 é impossível, comentamos nós, devem ser os de sócios que para os que não são sócios custam 120… o consorte de trás, emigrante em França, diz que compra seja qual for o preço, ainda por cima é sócio. Este está garantido. A malta já fez amizade, estamos na fila à mais de uma hora, é meio-dia e meia, estamos quase a perder a protecção da paragem dos autocarros que nos dá sombra, daqui a pouco começamos a subir as escadas e é ao sol… e aqueles cabrões querem 1 euro (duzentos paus) por uma garrafinha de água de 0,33l… a Manela quando foi para o hotel quis-me deixar o boné do Pedro e eu não quis, fui burro, daqui a bocadinho vou começar a “fritar” os miolos. Há outro tipo à minha frente que vai comprar bilhetes para a família toda, tem aspecto de quem pode comprar o estádio, aspecto e “patuá”, o tipo fala por sete, deve ser vendedor! Foi ele que foi à bocado saber se ainda havia bilhetes ou não. Este tal, diz que está a “marcar um mano” que anda para lá e para cá com um jornal enrolado debaixo do braço e já foi à bilheteira “n” vezes. Deve ser da candonga, dizemos nós, está a comprar o pouco que há para depois vender pelo dobro ou pelo triplo. Só não entendemos, é qual o tipo de acordo é que o “magano” tem com o segurança, que o deixa circular livremente, enquanto nós temos que estar aqui na fila, ao sol, como carneiros! São estes “manfios” que dão “má fama” aos seguranças. Passamos palavra, e a contestação sobe de tom, vai fila fora até chegar ao segurança que, curiosamente, troca um olhar cúmplice e comprometedor com o tipo do jornal enrolado debaixo do braço. O sujeito raspa-se de “fininho” deixando o guarda, como diz o nosso “fala-barato”, em maus lençóis. Tão maus, que o homem tem que ser substituído por outro colega que estava junto à porta das reservas dos bilhetes de época e “game box”! O caso esteve preto, o homem ia levando na corneta, mas apareceram dois “bófias” e a cena acalmou. A Manela ligou-me a dizer que já tinham chegado ao hotel. Ficou espantada quando lhe disse que ainda não tinha chegado à escadaria.
É uma hora da tarde. A espera, em caminhada lenta, continua agora ao sol escaldante. Já perdemos a sombra. Em contrapartida estamos mais perto dos papéis que dão direito a viver o sonho.
Do lugar onde me encontro, dá para ver o moribundo estádio José Alvalade, mesmo aqui ao lado. As bancadas já não tem cadeiras, aliás um quarto do estádio já nem tem bancadas. O relvado está revolto, terra, erva, pedra e tijolo. Dá pena. Relembro dois jogos que lá vi, não me lembro em que ano foi, ainda o estádio não tinha cadeiras, sentávamos o traseiro no cimento frio. Talvez princípios dos anos 80! O primeiro jogo que lá vi foi um Sporting – Benfica, para a Taça, o Sporting ganhou, salvo erro por 2-1 (também pode ter sido 1-0, já lá vai tanto tempo!). Nessa mesma época, voltei a Alvalade para assistir ao Sporting – FC Porto, ainda para a taça de Portugal. O resultado final foi de 1-1. O Sporting seria eliminado no segundo jogo, nas Antas. No Sporting dessa altura jogavam o Damas, o Manuel Fernandes, e o Jordão; No Benfica o Bento, o Chalana, e o Nené; No Porto o Fonseca, o Gabriel, e o F. Gomes, entre muitos outros. Vinte anos mais tarde, no ano 2000, voltei aqui, já com o meu filhote e a Manela. Viemos assistir ao particular de pré-época (jogo de apresentação aos sócios) Sporting – Real Madrid. O Sporting, Campeão Nacional, ao fim de dezoito anos (!) jogava com Peter Schmeichel, André Cruz, Alberto Acosta (El Matador), contra os Campeões Europeus, Figo, Casillas, Roberto Carlos, Morientes, Raúl, entre outros. O Sporting ganhou por 2-1 (golos de A. Cruz, Acosta e R. Carlos) e o A. Cruz ainda falhou dois pénaltis (pénalti, mais repetição do mesmo) nos últimos minutos! Foram os três únicos jogos que lá vi ao vivo! Foi naquele relvado que Ivkovic defendeu um pénalti do Maradona…
Voltando ao presente. Atrás de mim, o emigrante, a mulher e duas filhas pequeninas. As miúdas choram, como que pedindo à mãe que tenha mais juízo que o pai, e as tire dali, daquele sol de Verão. Ao fim de mais de meia hora de choro e choraminguisses, as meninas lá conseguiram que a senhora as levasse a visitar a nova “Loja Verde”. Pelo menos lá dentro há sombra! À minha frente – muita gente – o tipo que também não quer pagar 120€, o outro que paga o que for preciso, um velho sócio chato e ranzinza, dois ingleses do Manchester, que vão olhando para o estádio e fazendo comparações com o seu “Old Trafford”, um africano que tem instruções muito precisas do seu pai “…compra a merda dos bilhetes nem que tenhas que pagar 100 contos por cada um! …”. Mesmo atrás do emigrante “francês”, está um inglês que fala com alguém ao telefone e diz “…yes, I’m here, in the new Alvalade stadium to buy the tickets to the Sporting game… if I fucking survive…” a seguir faz outro telefonema para o… “Allô Pizza” a encomendar o almoço (e esta hein!?).
Tenho a camisa colada ao corpo. A cabeça quente. Porra, que Lisboa é mais quente que o Algarve! Sinto o corpo fraco. Afinal levantei-me às seis da manhã, conduzi durante cerca de três horas, estou aqui a pé à mais de hora e meia, sem comer e sem beber… o que eu não faço pelo Sporting! Bom, confesso que não é só pelo Sporting. É também, e principalmente, pelo meu filho. Parece que o estou a ver, e a ouvir, daqui a quarenta ou cinquenta anos, a dizer aos filhos e aos netos “… estive aqui com o meu pai, vosso avô e bisavô, no dia da inauguração. Foi um dia inesquecível, uma noite mágica… até chorei de alegria quando o jogo acabou. Nunca mais me esqueço! Foi de facto um dia, e um momento histórico!
Deus me ouça e que assim seja. É por este sonho que eu estou aqui!
Confesso que me chegou a passar pela cabeça – deve ser do sol e do cansaço – que, se quando chegasse à bilheteira, já só houvessem bilhetes de 120€, comprava um para mim, e o Pedro via com a mãe pela televisão. Desculpa filho, mas acho que tenho esse direito. Afinal quantas horas vou ter que esperar aqui, em pé e a fritar o couro cabeludo? Depois deste sacrifício, só um louco volta para trás sem bilhete! Tu vais entender. Tens a vida toda pela frente para ver o Sporting. Quem sabe se vais estar na inauguração do que vem a seguir a este!? Afinal o tempo médio de vida de um estádio é de cerca de cinquenta, sessenta anos… e tu tens onze. Eu é que se perco esta oportunidade não tenho outra! Mas… que raio é que eu estou para aqui a pensar? Ir ao jogo sem o meu companheiro!? Não há dúvida que estou a enlouquecer. Não! Está completamente decidido, ou vamos os dois ou não vai ninguém!
“… Vem um gajo do Algarve até aqui, e arrisco-me a voltar para trás sem bilhete! …”.
“Você vem do Algarve?” pergunta-me um dos meus “vizinhos” da frente. “Opss, estava a pensar em voz alta! Sim, não sou de lá mas venho do Algarve!” respondi-lhe. “Descanse, amigo, que vamos arranjar bilhete!” disse-me com convicção. “Deus o ouça!” desabafei eu.
São quase duas da tarde, a Manela e o Pedro vão ter comigo, já eu estou a meio do percurso, e dizem-me que vão almoçar nos bares da estação do Metro. O Pedro pergunta-me se haverá bilhetes. Respondo-lhe que vou até ao fim, mas para não pensar muito nisso porque, quase de certeza vamos ver o jogo pela televisão. Eles vão e eu fico ali. Já mais perto da bilheteira. Já a vejo ao longe! Merda, está lá tanta gente! Não há-de ser nada. O velho sócio continua a resmungar, agora ouvi-o perfeitamente dizer que “Se só vendessem bilhetes para os sócios, não tínhamos que apanhar esta seca toda… vendem para toda a gente… ando todo o ano a pagar quotas e tenho que estar aqui ao sol! …” Pronto, agora vou-me passar, olha o cabrão do velho… “Ouça lá, você pensa que só os sócios é que são sportinguistas? Vá viver para o Algarve, depois de nascer no Porto, que eu quero ver se você é sócio! Olhe que você não é mais sportinguista do que eu, ouviu? Se é sócio viesse comprar bilhete no dia 1, que foi quando as bilheteiras abriram para vocês… olha a porra!” O homem não respondeu, até porque alguns concordaram comigo e ajudaram à “festa”, mas a malta não quer barulho, a malta quer é bilhetes, por isso não “adiantamos serviço”.
São duas e dez. Aproximamo-nos das barreiras que separam a fila do espaço livre entre nós e a bilheteira. Vem um tipo da organização, da SAD ou do raio que o parta, de caneta e bloco de apontamentos em riste, perguntar-nos quantos bilhetes queremos e se somos sócios ou não. Pronto, é agora. Vai dizer que já não há bilhetes para os não sócios. Agora é que o velho se ri de mim! … Não! Calma! Parece que há para todos… “O Sr. quantos quer, se faz favor…preciso de saber para ver se ainda vos deixo entrar, é que estão mesmo a esgotar… já não há de todos os preços!” Eu não digo, que aqui na fila, passamos do sonho à desilusão em poucos segundos! O coração parece que me quer saltar do peito, já não tenho fome nem sede, quero é que este gajo me diga se “…ainda tem, para não sócios, de 80€?”… “… tenho, quantos quer?” (yes, yesss, yessssss, apetece-me dar um beijo na testa deste tipo) “quero dois, se faz favor” digo eu num tom aparentemente calmo. “Ok” responde-me ele. O meu sofredor da frente, olha para mim, sorri e pisca-me o olho, como quem diz – parece que nos vamos safar! Sorrio-lhe de volta. Começa a doer-me a cabeça, a camisa já é uma segunda pele. O tipo separa agora portugueses de ingleses “é para não ficarem juntos na bancada” diz. O inglês que está dois lugares atrás de mim diz que “sou de Manchester mas vivo em Lisboa, e sou do Sporting” Ficamos todos espantados, o sotaque não engana, o tipo é “cámone” mas diz que é “suportter” do Sporting (!), tá bem.
São duas e vinte, estou aqui há três horas! Mandam-nos entrar! Até as pernas me tremem, porra. Está quase, estou quase lá… cheguei! Foram as únicas passadas largas que dei nas últimas três horas, estes cinquenta metros sem barreiras e sem ninguém à frente, pareciam dez quilómetros! O “bétinho” rico já comprou bilhetes de sócio, “custaram-me 60€ cada” disse ele. Pois, são os tais de 120, pensei eu! Chega a vez do meu camarada da frente… “quero dois de 80€, de não sócios” pediu o homem à senhora alta e de óculos, que olhava fixamente o monitor do computador, como um burro olha para um palácio “… de 80€ já não tenho!” disse ela secamente! Meu Deus, ajuda-me… ficamos os dois a olhar para ela sem conseguirmos dizer nada. Ficamos paralisados por breves segundos. Bom, o homem não fala, falo eu! “Olhe, a Sra. desculpe, mas deve haver algum engano. Um Sr. da organização esteve a falar connosco e disse-nos que havia bilhetes de 80€ para a malta que não tem cartão de sócio… estamos a pé e ao sol há três horas… não me diga que não tem bilhetes… eu não saio daqui sem bilhete… e não vou levar de 120€… a Sra. veja lá bem…” a funcionária deve ter visto que eu estava a “mudar de cor” e antes que eu desfalecesse ali, interrompeu-me e disse “… mas tenho de 60€…”. “Mas qual 60!? – retorqui eu – já lhe disse que não sou sócio e este Sr. também não! Não podemos pagar 120 por bilhete…” eu já não sentia as pernas e começava a faltar-me a voz, bolas que me estava mesmo a sentir mal… “Ó Sr. eu tenho bilhetes de 60€, não são para sócios… acabaram os de 80€ mas ainda tínhamos uma reserva de 60€ “ Finalmente caí em mim, depois da tempestade vem a bonança, isto, ao fim e ao cabo, ainda me saiu melhor que a encomenda… não só consigo os ingressos como ainda levo troco! Maravilha – pensei – agora é que o raio do coração me salta pela camisa fora! E a dor de cabeça a aumentar! Mas já nada me importa, eu quero é agarrar os bilhetes. Entretanto o meu colega da frente já está aviado. Feliz da vida, quase que me dá um abraço, cumprimenta-me e deseja-me sorte. Chega finalmente a minha vez! “Boa tarde, sendo assim quero dois “não sócios” de 60€, se faz favor…” a senhora olha para o teclado, de soslaio por cima dos óculos, e diz “só há um problema…” não, não aguento mais! O que será agora! “… não tenho dois lugares seguidos, tenho o 1 e o 5 desta fila… tem que ficar separado quatro lugares!” diz-me ela com a maior das naturalidades. Estive quase a dizer-lhe que sim, mas… também já que sofri tanto até chegar aqui, vou lutar mais um pouco! “… Não, desculpe lá, a outra pessoa é o meu filho que tem 11 anos, e eu não o quero separado de mim dentro do estádio…” nesta altura ela coloca de lado os dois bilhetes e chama um colega para a auxiliar. O pessoal que está na fila começa a resmungar com a demora. Viro-me para trás e mando-os calar – eu hoje estou por tudo! – estamos aqui à três horas, não podem esperar mais cinco minutos? Por esta altura, já o funcionário tinha conseguido desbloquear o problema. Passo o dinheiro para dentro do “guichet” e a senhora passa-me os dois bilhetes. Dois bilhetes de 60€ cada para o Sporting – Manchester! Obrigado meu Deus, consegui! Agarro nos papéis, com força, olho para eles e guardo-os cuidadosamente na bolsa que trazia à cintura. Cumprimento o restante pessoal que ficou na fila, e olho ao longe, os outros aflitos. Ansiosos. Que tentam entrar naquele espaço onde o sonho fica mais perto. Passo por uma série de pessoas que me perguntam se ainda há bilhetes… porque é que estão a demorar tanto tempo… a que preços são os bilhetes. Vou respondendo conforme posso, e sei, a todas as solicitações. Deixem-me em paz – digo eu para os meus botões – vocês não vêem que eu quero é correr e gritar de felicidade. Quero sair daqui aos saltos a gritar para toda a gente: JÁ OS TENHO! Saiam-me da frente, quero ver os olhinhos do meu filho, a brilhar, quando lhe mostrar os bilhetes! E continuei com o meu passo calmo e firme, como se nada se passasse. Ainda pude ver, pelo canto do olho, alguns que me olhavam de modo estranho. Alguns com vontade de terem aquilo que eu levava comigo! Tenho que ter cuidado – pensei – agora sou um alvo a “abater”, ou a assaltar. Vou-me pirar daqui, do meio da confusão.
Pego no telemóvel e ligo à Manela. “Então já almoçaram? Diz-me onde é que estão para ir ter com vocês…” “Conseguiste os bilhetes? Estamos no bar do Metro…” (...) “Já vou ter com vocês…”Estou a ficar paranóico, cada pessoa que olha para mim tem cara de quem quer os meus bilhetes. Estou a precisar de comer e beber alguma coisa, estou a delirar, é do cansaço e do sol! Finalmente encontro-os, sentados a uma mesa com os pratos vazios à frente. Esperam-me. Nem os deixo falar… “Tanta merda e tanto cansaço para isto… não posso mais… filho, deixa lá, o jogo dá na televisão…” O miúdo nem me respondeu, limitou-se a fazer um trejeito com a boca e abanar a cabeça afirmativamente. De repente pisco um olho à Manela e mostro os bilhetes ao Pedro! O rapaz ia saltando da mesa para me abraçar “Conseguiste pai, conseguiste… vamos ver o jogo… obrigado pai…”, o abraço foi longo e apertado, o pessoal ficou todo a olhar para nós, espantado com tal reacção. Até eu fiquei meio admirado, pois o miúdo não costuma ser tão expansivo e emotivo!
Guardei os bilhetes e pedi um bitoque. Finalmente vou comer, finalmente estou sentado, e aqui há água sem ser a 1€ cada garrafinha!
Enquanto como, vou respondendo às perguntas da minha mulher e do meu filho, e contando as minhas aventuras das últimas três horas.
(…)
06 de Agosto. Fim da tarde. Saímos do Hotel equipados a rigor em direcção ao Metro. A minha mulher e a minha irmã foram até ao “El Corte Inglês” enquanto “os homens” iam à bola.

O resto, já toda a gente conhece. O Sporting venceu por 3-1. Eu lembro-me bem… mas o mais importante é que o meu filho jamais esquecerá!

José Manuel Sarmento – Agosto 2003

Menino/Homem

Quando eu nasci, era tão pequenino que já nem me lembro
Só sei o dia, o ano e o mês de Novembro
(...)
Depois eu cresci... e nem quero lembrar
Quantas asneiras que eu fui aprontar
Minha mãe dizia que me ia bater
E eu já nem sabia onde me meter
(...)
E de menino passei a rapaz
Olhava as meninas como era capaz
Era meio tímido, minha voz tremia
E de todas elas já não sei qual queria
(...)
Passei a adulto, agora é que é
Há tantas garotas que já não dá pé
De minhas asneiras mamãe já não liga
Já não sou garoto, já nem armo briga
Mas o que eu queria era ser pequenino
P’ra não ter que pensar mais no meu destino
Eu não queria chegar a velhinho
P’ra não lembrar de quando era menino!

José Manuel Sarmento – 06 Fevereiro 1984

A Poesia

“Para mim a poesia não obedece a regras nem segue nenhuma linha mestra, não tem princípio nem fim, é apenas e só algo que sentimos no nosso interior... ou no “nosso” exterior. É algo de não palpável, como o amor (“...amor é fogo que arde sem se ver...”), que não podemos ver mas apenas sentir.
A poesia, só o é, quando a escrevemos sem pensar em nada... e em tudo! A noite pode ser dia e o dia noite, na poesia o branco nem sempre é mais claro que o negro mas simplesmente... branco!
A poesia é fazermos do mundo em que vivemos um mundo melhor... ou pior, consoante a forma como o vemos.
A poesia é o amor e a morte, o azar e a sorte. E quem a lê, se a sente é um poeta... se não sente é porque não sabe que a poesia é assim!...”

José Manuel Sarmento - 09 Janeiro 1984

E Se... Amor

Se estou longe... te quero
Se estou perto... te adoro
E se tu fores embora... eu choro
Vem cá, vem a mim
Se te vejo eu te abraço
Se te abraço... te beijo
Mas eu sempre te imploro
Te dá, te dá a mim
E se tu ris eu me rio
Se tu falas... me calo
Escuto-te e depois falo
Te amo, ama-me a mim
E finalmente os dois
Nos abraçamos e depois
De um beijo demorado
Fico mais apaixonado
E tu dizes... te amo, amo-te sim.

(Este poema é dedicado à minha mulher, que me atura há mais de 20 anos! E mais de 20 tem este artigo que está escrito em Português do Brasil, como estava na moda, na época)

José Manuel Sarmento – 09 Janeiro 1984

É tão fácil

É tão fácil ser poeta
Fazer versos e cantar
Quando a porta está aberta
E nós podemos entrar

Nesse mundo de magia
Nesse mundo colorido
Que afinal é o dia a dia
Do meu mundo preferido

E tão fácil ser poeta
Com tristeza ou alegria
Ao fazer a descoberta
Que escrever já é poesia

E a poesia que escrevo
Não é mais que o sentimento
Que eu ponho em relevo
Nestas palavras que invento

É tão fácil ser poeta
Mesmo sem se ter poesia
Que com papel e caneta
Faço da noite o teu dia


José Manuel Sarmento – 09 Janeiro 1984

Não vale a pena/Mundo dos fracos

Não vale a pena fazer versos nem canções
Nos dias de hoje é melhor armas e canhões
Já ninguém pensa, ninguém fala de ilusões
Todos se olham e se agridem... confusões!

Não vale a pena tu cantares a essa gente
Já ninguém fala, ninguém ouve, ninguém sente
Já nem as flores crescem como antigamente
Pois neste mundo anda tudo tão diferente!

Não vale a pena tu dizeres que estás vivo
Pois todos passam indiferentes, tão consigo
Nem vale a pena tu ficares de mal contigo
Não vejo nada neste caminho que sigo!

Não vale a pena tu pensares mais, nesta vida
Já ninguém para, ninguém escuta, ninguém liga
Segue sozinho ou se quiseres com uma amiga
Mas mesmo assim vai ser difícil dizer... siga!

Mas vale a pena tu cantares só para ti
Os teus poemas e canções que tu fizeste
Vai sozinho, mas vai... sai daqui
Pois este mundo não te interessa... tu venceste!


José Manuel Sarmento – 02 Novembro 1983

O Tempo

O tempo só é tempo quando temos tempo para dele falar.
Pois quando não há tempo nem temos tempo de nele pensar.
O tempo do tempo é o tempo que demora mais tempo a chegar.
E o tempo sem tempo é aquele tempo que eu te vou dar.
Se eu falo em tempo é porque tenho tempo de nele falar.
Pois o meu tempo é o tempo que passo a olhar para o ar.
Só queria ter tempo, tempo e mais tempo para nisto pensar.
Pois vejo que o tempo chega ao fim do tempo e vou acabar!



José Manuel Sarmento – 29 Outubro 1983

Sinto Raiva

Sinto raiva quando não consigo escrever
Sinto na mão a caneta a tremer
O sangue a ferver... a ferver
O cigarro na mão que se acaba
E este poema sem nada... nada!
Sinto em mim trovoada
Raios, raios de lava.



José Manuel Sarmento – 24 Abril 1984

O Sentido da Vida

O sentido da vida. À quantos milhares de anos o Homem procura, sem encontrar, o sentido da vida? E o que é realmente o “Sentido da Vida”? O que fazemos aqui? Quem somos, donde vimos e para onde vamos? Quem nasceu primeiro, o ovo ou a galinha? E Deus, será que Deus existe? Quando morremos para onde vamos? Será que existe algo mais a seguir a “isto”? Espero que sim, senão não vale a pena os sacrifícios que fazemos, tudo aquilo de mau porque passamos e sofremos! O que é o Destino? Será que o podemos mudar, ou tudo o que nos acontece é o que tem de acontecer e não vale a pena lutar contra isso? Devemos viver dando importância ao dia de hoje, esquecendo o de ontem e pensando no de amanhã? Claro que sim, mas temos de ter consciência que o que fizemos ontem vai ter influência no que vamos fazer hoje e, provavelmente, amanhã. Os monges Tibetanos procuram a paz de espírito, a paz interior que segundo eles lhes dará a salvação eterna! Eu limito-me a procurar a minha paz terrena. O meu Sentido da Vida. Para o conseguir tenho que me sentir bem com os outros, mas primeiro que tudo tenho que me sentir bem comigo próprio. Tenho que gostar de mim; Tenho que gostar daquilo que faço. Tenho que me sentir bem no meu corpo e em paz com o meu espírito. Gostava de dedicar a minha vida a ajudar os outros. Mas como é que o posso fazer se nem a mim eu consigo ajudar? Sinto-me inadaptado neste mundo, neste século. Gostava de ter vivido no início do séc. IXX! Gostava de ter vivido no tempo em que as pessoas passavam horas a conversar umas com as outras, à lareira. Nesse tempo havia tempo! Hoje tenho medo de não ter tempo para o meu filho! Tenho medo que o meu filho me diga um dia... ”Pai, não tiveste tempo para mim!”. O meu pai não teve... ou não quis ter... ou não soube ter! Eu, apesar de tudo, tenho tido. Brinco muito com o meu filho, passo-lhe parte da minha energia e dos meus conhecimentos. É um dos meus motivos de orgulho, o meu filho, é a minha maior fonte de felicidade! Mas será que isto basta. Será que “termino” aqui? Aos 38 anos dou comigo a fazer-me estas perguntas todas! Porque será? Que respostas espero encontrar? Acho que nem eu sei! Será o medo da morte? A procura da felicidade suprema? Será que estou a adivinhar algo por causa dos “flashes” que tenho tido da minha infância e juventude? Será porque estou a ver a vida a passar por mim e não consigo nada, ou quase nada, do que sonhei conseguir? Sinto-me preso à terrível rotina casa/emprego, emprego/casa. Sinto-me preso a uma profissão estúpida que não tem nada para me oferecer, nem encontra maneira de me agradecer tudo o que eu já fiz por ela! Sinto-me preso ao passar dos anos e à impossibilidade de cumprir objectivos! Sinto-me envelhecer agarrado a uma causa que não é a minha, numa terra que não é a que me viu nascer! Procuro o meu Sentido da Vida, a minha paz, sem passar por cima de nada nem de ninguém. Procuro evitar que o “stress” e a competição desenfreada por um lugar no pódio da vida me firam de morte. Procuro, no fundo, ser feliz sem magoar ninguém. Procuro ser feliz fazendo a felicidade dos que me rodeiam. Procurarei morrer com dignidade, depois de conseguir algo de bom neste mundo, para que possam dizer... “Ele encontrou o Sentido da Vida”!

José Manuel Sarmento – 08 Julho 2001

Os meus olhos, tua alma.

Os meus olhos nos teus!
Um toque com a ponta dos meus dedos
na ponta dos teus cabelos. Tão meus!

Um simples olhar embrulhado num sorriso.
Uma expressão envergonhada. No meio do nada!

O sopro da minha respiração,
tão perto da tua boca!
Foi o beijo que não aconteceu,
nesse amor que foi… só meu!

Nunca soubeste, nem podias saber,
que o teu amor, era eu.

A sofrer!

Por não te poder dizer…
Por não te poder amar…
Por não te poder ter…
Por não te poder dar…


Os meus olhos nos teus!
Tão azuis, verdes, castanhos e negros…
arco-íris da alma!

Uma lágrima do teu rosto para o meu,
no meu sorriso que te acalma.

Serei o teu anjo da guarda
para sempre…
minha amada!

Sem que tu saibas de nada.



José Manuel Sarmento – Outubro 2003
Olá!

"O Fantasma da Colina" é primo do "Fantasma da Mansão Amarela" que entretanto se reformou. Este primo torto, porque não é primo direito, e além do mais tem uma deficiência, que não se vê por ser fantasma, pretende ser um vosso primo chegado e nunca um primo afastado.
Ora, resumindo e concluíndo, ainda não disse nada de jeito, o que aliás pretende ser a imagem de marca desta espécie de blogue.
Não percam os próximos episódios que serão certamente empolgantes... ou não!
Até já.